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segunda-feira, 30 de março de 2015

Ciência e Saúde sob o olhar de Alexandre Quintanilha


No passado dia 5 de março, o Colégio Casa-Mãe recebeu o prestigiado Professor e Investigador Alexandre Quintanilha, docente do Instituto Biomédicas Abel Salazar, para ministrar a palestra “Comunicar e Educar no Século XXI: Ciência & Saúde”. A comunidade educativa, composta por pais e encarregados de educação, alunos do 7º ao 12º ano de escolaridade, pessoal docente e não docente, aderiu em massa para ouvir tão aclamado cientista.
Durante uma hora e meia, apresentou-se e debateu-se a Ciência e seu contributo para a Sociedade, enquanto motor de investigação nas áreas da Biologia, Medicina e Saúde. Traçaram-se os principais registos das grandes descobertas nos séculos XX e XXI na área da Fisiologia, Genética, Anatomia, Embriologia e Farmacêutica.

Analisaram-se igualmente alguns dos principais condicionalismos, éticos e morais, subjacentes à investigação científica, nomeadamente na área da clonagem e terapia génica com recurso a vírus, a transplantação, a técnicas de reprodução medicamente assistida, a alimentos transgénicos, entre muitos outros. Ninguém ficou indiferente aos assuntos abordados, e a audiência participou ativamente, intervindo, questionando, refletindo e ponderando as diferentes questões levantadas. No final, todos ficaram mais "ricos" com esta fascinante palestra!
Paralelamente alunos das disciplinas de Biologia e Geologia, Biologia, efetuaram uma entrevista ao Professor Doutor Alexandre Quintanilha, relativa ao seu percurso de vida, profissional e académico, com passagens pelos momentos mais importantes da sua vida.
CCM News: Sabendo que ingressou, primeiramente na área da Física teórica, qual o motivo que o levou a interessar-se pela área da Biologia?

Alexandre Quintanilha (AQ): A biologia sempre me fascinou. Tanto o meu pai, que era geneticista, como um excelente professor do liceu (o dr. Lacerda) encorajaram e facilitaram o meu acesso a laboratórios onde pude fazer experiências e também visitas a ecosistemas espantosos (bancos de corais e mangais na ilha da Inhaca em Moçambique). Mais tarde foi Sydney Brenner (que veio a receber um prémio Nobel) que me deu o estímulo para, depois do meu doutoramento em física teórica, recomeçar na área da fisiologia celular. A física não deixou de me fascinar e acho que a escolhi inicialmente para me provar a mim próprio que era capaz de contribuir nesta área (no liceu, a física foi sempre a cadeira a que eu tirei piores notas). A física começou por ser um desafio.

CCM News: Foi o senhor professor que escolheu Berkeley ou foi Berkeley que o escolheu?

AQ: Acho que fui eu claramente que escolhi Berkeley. Não só pelo prestígio dessa universidade, mas também por estar inserida numa área geográfica (a denominada "Área da Baía" de San Francisco na Califórnia) riquíssima não só do ponto de vista científico como também cultural, social e humano). Não foi por acaso que muitos dos movimentos estudantis nos anos 60 e 70 do século passado, começaram em Berkeley. E que era também aí o berço de muitas empresas que influenciaram de forma decisiva o nosso planeta.

CCM News: Sente alguma diferença entre o sistema educativo português e o estrangeiro?

AQ: É difícil falar dos "sistemas". Existem excelentes e péssimos exemplos em todos os paízes. Para mim, um bom sistema é o que promove a curiosidade e a imaginação. A ênfase na acumulação de informação parece-me pobre. É claro que deve também promover métodos de trabalho que sejam robustos (nunca desistir enquanto não tiver compreendido uma questão). E estimular a capacidade de arriscar a entrada em áreas do conhecimento que nos fascinam e que por vezes nos assustam.

CCM News: Como já foi provado de forma incomensurável, as reações de oxidação-redução são essenciais na natureza. No entanto, como o senhor professor doutor já referiu e passo a citar "é por isso que as pontes enferrujam, é por isso que o vinho se estraga". Assim, neste seguimento, qual é, na sua opinião, o agente oxidante do desenvolvimento da cultura cientifica portuguesa?

AQ: É uma pergunta difícil, pois eu não conheço assim tão bem a "cultura científica portuguesa". Nem sei se existe! O conhecimento é universal e não respeita fronteiras geográficas nem culturais. Talvez possa dizer que em Portugal encontro muitas vezes uma procura quase que "doentia" do conforto. É óbvio que todos gostamos de encontrar algum conforto na vida, mas na minha experiência pessoal, foi a procura do desconforto, da instabilidade, da incerteza que mais me ensinou sobre mim mesmo e o mundo à minha volta.

CCM News: Como surgiu o interesse pelo stress oxidativo?

AQ: Em parte a ideia de que o oxigénio, apesar de essencial à vida de muitos seres vivos, ser também uma substância tóxica. Tentar perceber este mistério foi um enorme desafio. Hoje em dia, muitos grupos no mundo inteiro tentam perceber qual o papel do oxigénio e do stress oxidativo na fisiologia e na patologia de muitos seres vivos (animais, plantas e microorganismos). Também quis perceber qual o efeito do exercício físico intenso (onde consumimos muito mais oxigénio) sobre os animais.

CCM News: Aconselharia a qualquer de nós, pré-universitários, prosseguir uma carreira numa qualquer área de investigação científica?

AQ: Eu aconselharia que prosseguissem qualquer área do conhecimento. Muitos dos domínios que estão hoje na moda, vão deixar de estar em pouco tempo. Temos de estar preparados para isso e para nos entusiasmarmos por novos desafios. Prossigam os vossos sonhos. Não vai ser sempre fácil, mas valerá sempre a pena.

CCM News: Tendo em conta as suas vivências profissionais no estrangeiro, que conselhos considera essenciais fornecer a alguém que pretenda internacionalizar-se? Há algum conselho em particular que desejava ter recebido?

AQ: Não ter medo de arriscar. Ir à procura de desafios difíceis. Não ter medo do desconforto. Deixem-se seduzir pelos vossos sonhos, mesmo quando às vezes eles podem parecer irrealizáveis. Felizmente, apesar de serem pessoas muito diferentes, foi isso que o meu pai (açoreano da Terceira) e a minha mãe (alemã de Berlin) me ensinaram pela forma como olhavam para o mundo. Apesar de não terem tido uma vida fácil, nunca deixaram de acreditar que vale a pena lutar pelo conhecimento, pela justiça e pela amizade ou pelo amor. E não só nunca tentaram impedir que eu fosse atrás dos meus sonhos, como sempre o encorajaram, sabendo de antemão que não seria fácil nem para eles nem para mim.
Autores:
Carolina Dinis, Vitória Rafael, Diogo Dias, 10ºA.
José Fernando Couto, Joana Ferreira, Paula Dias, 10ºB
Alice Du, Mafalda Sampaio, Marta Dias, Patrícia Carvalho, 12ºA