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quarta-feira, 29 de junho de 2016

Palácio de São Bento: a história de um edifício


O Palácio de São Bento tem as suas origens no primeiro mosteiro beneditino edificado em Lisboa, remontando a sua construção ao século XVI. Posteriores alterações significativas na sua localização original foram efetuadas por necessidade de mais espaço para albergar uma comunidade religiosa em crescimento, assim como por motivos de salubridade e desejo de maior proximidade com o núcleo urbano e seus fiéis.
A criação do Mosteiro de S. Bento remonta a 1570 quando a Congregação Beneditina Portuguesa decidiu no seu 1º Capítulo Geral, em Tibães, criar dois novos mosteiros nas duas principais cidades, alargando assim a sua área de atuação. Até então a Ordem de S. Bento (OBS) estivera praticamente circunscrita a zonas rurais do Norte do País.
O Mosteiro de Nossa Senhora da Estrela, séc. XV
A reformulação da OSB e a criação de novos mosteiros surgem na sequência do Concílio de Trento e das alterações teológicas e litúrgicas dele decorrentes. 
Em 1572 foi criado o Mosteiro de Nossa Senhora da Estrela, mas por ser considerado exíguo e demasiado afastado da cidade a partir de 1581 a OSB decidiu construir um novo mosteiro, para o que adquiriu duas quintas a Antão Martins e aos herdeiros de Luís Alter de Andrade.

A construção iniciou-se em 1598 com a autorização do cardeal D. Henrique de acordo com o projeto do arquiteto régio Baltazar Álvares. A transferência dos monges do anterior mosteiro efetuou-se em 1615 e o Mosteiro de Nossa Senhora da Estrela, após um período de abandono, em 1632 passou a albergar o Colégio do Noviciado.
O novo edifício denominado Mosteiro de S. Bento, o Novo, da Saúde, ou dos Negros (também assim designado porque propriedade dos Frades Negros de Tibães e por envergarem hábito negro) tinha capacidade para 50 monges e consistia numa estrutura extensa, de planta quadrada, com quatro claustros – dois concluídos, um incompleto e um projetado - , igreja de nave única, capelas laterais, cripta, duas torres sineiras, sacristia, coro, livraria, sala do capítulo, portaria, hospedaria, cárcere, enfermaria, botica, dormitórios, barbearia, cozinha, refeitório, adegas, lagares, celeiro, forno, oficinas e cerca. 
O Mosteiro de São Bento da Saúde, séc. XVIII

O mosteiro foi submetido ao longo da sua história a constantes alterações arquitetónicas e acrescentos, na sequência de grandes incêndios e do terramoto de 1755, época em que ainda não tinham terminado as respetivas obras de acordo com o projeto inicial e nem estava concluída a capela–mor. Outras modificações resultaram de adaptações a novos gostos e novos estilos arquitetónicos e decorativos.
O edifício do mosteiro, por ser demasiado vasto e em grande parte desocupado, teve a partir de então utilizações diversas tais como Arquivo da Torre do Tombo, a Patriarcal, hospedaria de bispos, “prisão”, Academia Militar, armazém dos despojos militares franceses e sepultura de muitos mortos, como o embaixador de Espanha.
Era um dos mais imponentes edifícios de Lisboa, apesar de nunca concluído, um mosteiro de grande prestígio a cujas cerimónias acorriam a corte e as grandes famílias da nobreza. A sua decadência tem início a partir do governo de Marquês de Pombal, e acentuada pelas Invasões Francesas e pelas Guerras Liberais culmina em 1834 ao serem extintas as ordens religiosas e as suas propriedades integradas nos bens do Estado.
Com o decreto real de D. Pedro IV, datado de setembro de 1833, as duas Câmaras – Pares e Deputados – foram instaladas no edifício do Mosteiro de S. Bento que passou a designar-se Palácio das Cortes. O seu recheio foi nessa altura disperso e encontra-se atualmente em outras igrejas de Lisboa e em museus.
Palácio das Cortes, 1860
Depois da implantação do regime liberal tornou-se sede das Cortes Gerais da Nação, passando a ser conhecido por Palácio das Cortes. Acompanhando as mudanças da denominação oficial do Parlamento, o Palácio foi, também, tendo várias denominações oficiais: Palácio das Cortes (1834-1911), Palácio do Congresso (1911-1933) e Palácio da Assembleia Nacional (1933-1974). Em meados do século XX passou a utilizar-se, geralmente, a designação de Palácio de S. Bento em memória do antigo Convento. Essa denominação manteve-se, depois de 1976, quando passou a ser a sede da Assembleia da República.
Após a Revolução Liberal de 1820 e da extinção das ordens religiosas em 1834 o edifício foi afeto à instalação do Palácio das Cortes e, então, entregue ao arquiteto Possidónio da Silva a responsabilidade de uma abreviada adaptação do espaço religioso às necessidades do novo propósito laico político, sendo aproveitada a Sala do Capítulo para instalação da Câmara dos Pares e feita de raiz a Câmara dos Deputados.
Só em 1867 o arquiteto Jean François Colson projetou a verdadeira reformulação da primeira sala, tornando-a mais funcional e digna da nova utilização.
Câmara dos Deputados, meados séc. XIX

Com o incêndio de 1895 revelou-se urgente a reconstrução, tendo, para tal, sido aberto concurso que selecionou o projeto de Miguel Ventura Terra que, caracterizado por uma estética neoclássica, este acabaria por remodelar não apenas a sala, quase todo o edifício, conferindo-lhe uma dimensão monumental, bem distante do discreto estilo-chão conventual, como convinha à importância do órgão parlamentar aí instalado.
A partir dos anos 20, a direção das obras foi entregue ao arquiteto Adolfo Marques da Silva que concebeu algumas alterações ao projeto inicial não apenas dos pormenores finais das fachadas, mas também em detalhes no acabamento dos interiores e, essencialmente, ao nível de todo o programa decorativo.
Durante os longos 50 anos em que decorreram as obras, foram criadas a antecâmara dos Deputados, a Sala dos Passos Perdidos, a Escadaria Nobre, a Biblioteca Parlamentar e o Salão Nobre, sendo as últimas já concebidas e efetuadas nos anos 40 do século XX, dentro de uma nova conceção estética e utilitária característica do Estado Novo.

Autor:

João Rodrigo Ribeiro, 10ºC