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segunda-feira, 30 de março de 2015

Condicionadores de leitura

"A leitura é uma necessidade biológica da espécie. Nenhum ecrã e nenhuma tecnologia conseguirão suprimir a necessidade de leitura tradicional.” – Umberto Eco

Estudos realizados, no âmbito do Plano Nacional de Leitura (PNL), apresentam que os portugueses leem mais do que há dez anos. Como está referido numa notícia do Jornal Público “(…)79 por cento, reconhece a utilidade da leitura, enquanto menos da metade, 44 por cento, afirma ter hábitos de leitura. O gosto de ler está presente em 58 por cento da amostra e 61 por cento vê a leitura como um prazer.” Algures neste dados, estão incluídos os jovens portugueses de hoje.
Apesar de os hábitos de leitura terem aumentado, é sabido que os jovens tendem a substituir a leitura pelas novas tecnologias e jogos. No entanto, quando um adolescente é o que se pode chamar de “viciado em livros”, quem condiciona o decréscimo da sua taxa de leitura? A questão para esta pergunta, no meu caso (e, certamente no de muitos!), é simples: os pais. Estes detêm um certo monopólio da nossa leitura. Controlam o poder económico, o poder de censura e o poder de transporte. São factos simples e verdadeiros.
Por exemplo, quando se vê um jovem de olhos brilhantes fixos naquela especial e bonita prateleira da Fnac com tantos livros que lhe prendem a atenção, basta um segundo, para que os seus sonhos sejam destruídos. E por quem? Pelos pais… “Mãe, posso…”, esta frase nem chega a ser concluída, pois somos logo invadidos por um sentimento de culpa impressionante quando olhamos para ela. Aquela cara, que só a tua mãe sabe fazer, que exprime um “não” duro, condicionado por milhares de razões, faz-nos desistir da procura pelo conhecimento e conforto que um livro nos oferece.
Então, saímos do estabelecimento, com a alma a pesar e o cérebro a matutar nas portas que aquele livro nos poderia ter aberto. Mas não há dinheiro… aquele livro ainda não é apropriado para nós… noutro dia, quando a mãe não estiver tão cansada… E, assim, se passam dias e noites em que o jovem não lê, em que fica adepto das novas tecnologias, em que arranja outra atividade para preencher o vazio. É aí que os sermões começam… “Porque é que não lês?”, “Em vez de estares aí a fazer nada deverias estar a ler…”, “Passas o tempo todo no computador, faz algo melhor, como ler!”, “Devias ser como a Marta. Ela lê de tudo, é muito culta!”… Não é para o espanto de ninguém que o jovem fica deveras revoltado e confuso. Então, se não posso comprar livros, como é que é suposto que os leia? Se não me deixas comprar algo que não conheces, como é que é suposto que eu leia de tudo?
Com isto, o pai ou mãe ficam completamente perplexos com a origem destas afirmações, até me atrevo a dizer que ficam magoados. Então, fazem um favor tanto a si como ao filho ou filha, vão comprar livros. Todavia, o ciclo repete-se, tantos livros, tantas escolhas, tanta indecisão, tanta impaciência… E, quando, o número da riqueza que vai sair da sua carteira aparece naquele minúsculo ecrã, é preciso que haja um extremo exercício mental por parte dos pais. Não que muitos dos livros custem balúrdios, mas porque é que o jovem não pode simplesmente requisitá-lo numa biblioteca? Ou pedir emprestado a um amigo? Para todos os que forem como eu, espero que me apoiem nesta causa: “Um quarto sem livros é como um corpo sem alma” – Marcus Tullius Cícero. Se existem grandes prazeres na vida, um deles é certamente possuir livros. Sentir a sua textura, o cheiro das suas páginas, a forma como eles encaixam perfeitamente na nossa prateleira. Logo, é imperdoável não os comprar… contudo, volta o “não há dinheiro”, “quando ganhares para ti”…
Concluindo, deveria haver outra linha ou coluna na tabela, outra barra no gráfico, outro número nas percentagens. Isto, porque as percentagens atuais pertencem aos jovens que não leem e aos que o fazem, generalizando-nos na percentagem dos que leem. Para nós, aqueles a quem, por alguma razão, é retirado em parte um dos prazeres mais importantes da vida, com a expressão que só a tua mãe sabe fazer, com a crise que elimina o teu fundo de investimento, deixando os teus pais sem saída se não a negação, deveria ser dada a merecida importância. Pois, nós somos “menos da metade”. Nós detemos parte do conhecimento, logo, do poder. Nós vivemos milhares de vidas. Nós somos lutadores numa causa sem fim.

Autora:

Mariana Alves, 9ºA