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    sexta-feira, 7 de abril de 2017

    100 anos de "Ultimatum Futurista"

    Óleo de Almada Negreiros, s/ título, 1940

    Autoretrato de Almada
    "Eu não pertenço a nenhuma das gerações revolucionárias. Eu pertenço a uma geração construtiva. (.) É preciso criar a pátria portuguesa do século XX. O povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem, Portugueses, só vos faltam as qualidades." É desta forma que Almada-Negreiros dá início, há precisamente 100 anos, ao seu «Ultimatum Futurista». Artista e escritor polifacetado, José de Almada-Negreiros nasceu a 7 de Abril de 1893, em S. Tomé e Príncipe, e morreu a 15 de Junho de 1970, em Lisboa. 
    A mensagem, provocatória, de Almada está impregnada do espírito Futurista, que se iniciara em 1909 com o manifesto de Filippo Tommaso Marinetti publicado na revista Le Fígaro. O texto dedicado às gerações portuguesas decadentes, foi lido por Almada Negreiros em abril de 1917, num espetáculo no Teatro República com outros representantes da Geração d'Orpheu.  Os temas centrais são a guerra e um novo patriotismo anti-saudosista, anti-democrático, baseado na concorrência técnica e vital entre povos.
    Revista "Portugal Futurista"
    Uns meses depois, em novembro, este "Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Século XX" seria publicado naquele que foi o único número da revista Portugal Futurista. Também lá estavam poemas de Mário de Sá-Carneiro e de Pessoa, o melhor do futurismo estrangeiro, uma homenagem a Santa-Rita Pintor, a reprodução de quadros de Amadeo de Souza-Cardoso e outro "ultimatum", o de Álvaro de Campos, onde o heterónimo de Pessoa se declarava contra uma Europa onde "homens, nações, intuitos está tudo nulo!" A revista, por sorte, escapou à censura prévia que vigorava em tempo de guerra.
    Após a sua leitura terão oportunidade de constatar o quanto ele está atualizado. Mais, o quanto as suas palavras são intemporais, aplicando até aos nossos dias. Deixamos, em jeito de provocação, a parte final do texto de Almada Negreiros. Divirtam-se...

    "Para criar a pátria portuguesa do século XX não são necessárias fórmulas nem
    teorias; existe apenas uma imposição urgente: Se sois homens sede Homens, se sois
    mulheres sede Mulheres da vossa época.
    Vós, ó portugueses da minha geração, que, como eu, não tendes culpa nenhuma de
    serdes portugueses.
    Insultai o perigo.
    Atirai-vos prà glória da aventura.
    Desejai o record.
    Dispensai as pacíficas e coxas recompensas da longevidade.
    Divinizai o Orgulho.
    Rezai a Luxúria.
    Fazei predominar os sentimentos fortes sobre os agradáveis.
    Tende a arrogância dos sãos e dos completos.
    Fazei a apologia da Força e da Inteligência.
    Fazei despertar o cérebro espontaneamente genial da Raça Latina.
    Tentai vós mesmos o Homem Definitivo.
    Abandonai os políticos de todas as opiniões: o patriotismo condicional degenera e
    suja; o patriotismo desinteressado glorifica e lava.
    Fazei a apoteose dos Vencedores, seja qual for o sentido, basta que sejam
    Vencedores. Ajudai a morrer os vencidos.
    Gritai nas razões das vossas existências que tendes direito a uma pátria civilizada.
    Aproveitai sobretudo este momento único em que a guerra da Europa vos convida
    a entrardes prà Civilização.
    O povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades
    e todos os defeitos. Coragem, Portugueses, só vos faltam as qualidades."

    Autoras:

    Dânia Neto, 9ºA
    Catarina Lopes, 9ºA